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I LOVE TYPOGRAPHY

Porque Bembo Cansa

By Kris Sowersby

Num recente painel de discussão sobre o design do livro na Nova Zelândia, eu critiquei o excesso de Bembo em muitos livros na Nova Zelândia. Como muitas perguntas foram feitas mais do que poderiam ser respondidas, eu escrevi este artigo para explicar. Permitam-me começar com uma breve história.

Antes da tipologia digital e da impressão offset, havia o letterpress. A tipologia era composta de fontes, uma fonte para cada tamanho. Estes tamanhos específicos de fontes consistiam de letras individuais feitas de liga metálica. Letras separadas eram colocados à mão para criar palavras, palavras eram alinhadas em frases, frases foram amontoadas para fazer parágrafos e estes eram tingidos e prensados em papel. Como um processo de impressão, é bastante básico. As xilogravuras e os carimbos usam um método semelhante.

Bembo

Contudo, cortar um ‘g’ minúsculo de 7 pontos é muito mais adequado do que a criação de um carimbo com cara de riso! Os velhos mestres do desenho tipográfico gastaram décadas aperfeiçoando o seu ofício. Cada fonte de tipo foi projetada para funcionar num tamanho específico. Por exemplo, quando Bodoni precisou de uma fonte de tamanho de texto, ele cortou uma fonte em 9 pontos. Quando ele precisou de um tamanho maior para os títulos, ele cortou outra fonte em 36 pontos. A de 9 pontos funcionou maravilhosamente para o texto e a de 36 pontos funcionou para o título.

Se alguém ampliasse a impressão impressa de 9 pontos para o mesmo tamanho que os 36, as diferenças seriam imediatamente visíveis. A de 9 pontos tem detalhes mais robustos: as serifas são mais grossas, o contraste é mais baixo e o espaçamento é mais generoso. A de 36 pontos tem linhas muito mais perfeitas e o espaçamento é mais justo. Isto é uma consideração técnica assim como estética: a de 9 pontos tem de ser mais robusta para resistir ao processo de impressão.
Se os detalhes forem demasiadamente perfeitos o metal desgastará rapidamente ou as serifas vão se quebrar quando pressionada sobre o papel.

Esta prática assume novo sentido quando consideramos que nunca pode haver um definitivo Bodoni, Garamond, Jenson, ou a tipografia de Fleischmann, enquanto os seus oeuvres se compõem de uma multidão de fontes únicas, de tamanho específico. Parece-se como esmagar Otelo, Rei Lear, Hamlet e um pouco da Tempestade e publicá-lo como ‘O Shakespeare’.

Por que isto é relevante? Bem, na pressa de se adaptar à tecnologia tipográfica digital, as fundições de tipo digitalizaram clássicos caracteres tipográficos. A natureza das fontes digitais é usar um traçado e escala como desejados. Os caracteres tipográficos passaram a ser cortados em uma grande variedade de tamanhos a um traçado único. Um caractere tipográfico digital pode ser otimizado para alguns tamanhos, mas dificilmente para todos. O Bembo, por exemplo, é uma cópia digital de uma interpretação metálica de um corte de caracter tipográfico original de 1495 – uma cópia da cópia. Deste modo, o processo de digitalização coloca um problema: que tamanho de ponto deve ser digitalizado?

Este dilema, aparentemente supérfluo, só pode ser realmente entendido quando os caracteres tipográficos metálicos originais são vistos na impressão. Ah, que visão alegre! A variação sutil da forma da letra, a leve impressão no papel, o calor vibrante de uma página de texto. Não é só belo, mas um prazer absoluto de ler. O efeito desses caracteres tipográficos é impossível de emular com os seus fantasmas digitais insípidos. A impressão moderna ficou tão perfeita, tão uniforme e exata que o espírito do original é esmagado. É como passar uma vida bebendo ruidosamente café e nunca experimentando um café espresso.

Assim como as línguas mudam, o mesmo ocorre com os caracteres tipográficos. Essas mudanças não são radicais; eles são evoluções sutis que abordam a cultura e a tecnologia. A tipografia moderna exige caracteres tipográficos modernos, projetados por gente do nosso tempo para gente do nosso tempo. Há considerações culturais também. É apropriado definir a poesia Pasifika contemporânea em uma tipologia projetada por um namorador italiano do século 17? Que tal utilizar uma asneira do século 18 para a polêmica política do século 21 da Nova Zelândia?

São os ideais do desenhista tipográfico compatíveis com aqueles do escritor? Seria pedante, naturalmente, combinar cada nuança da escrita ao tom da tipologia. Contudo, é bom quando um pouco de esforço é feito na seleção da tipologia. A leitura de livros da Nova Zelândia seria muito menos enfadonha se a tipografia interna fosse muita mais considerada. Apenas imagine se o mesmo montante de esforço entrou na escolha da tipologia como para escolher a cor da capa!

Aderir aos cadáveres ‘clássicos’ digitais é inútil, antiquado e anacrônico – só levará a tipografia enfadonha na pior das hipóteses e caminhando na melhor das hipóteses. Enfim, o ponto deve respeitar o leitor. Ele gasta muito tempo lendo, portanto, é correto fazer aquela experiência tão cômoda e apropriado quanto possível.

Kris Sowersby é desenhista de tipos profissional da Nova Zelândia. Você pode ver sua própria tipologia no Village.

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